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Dez segredos para uma vida equilibrada em 2024

Franciorlis ViannZa

30 de dez. de 2023

Todo final de ano faço a limpa na minha vida para começar o novo ciclo com a bagagem leve.

#OuZeSaber!


Todo final de ano faço a limpa na minha vida para começar o novo ciclo com a bagagem leve.


Encontro cada quinquilharia, cada treco que guardei por apego emocional, cada troço que perdeu a utilidade!


Todo ano é a mesma trabalheira. Presumo que se eu ordenasse por etapas, solucionasse de imediato as demandas, e alinhasse o mínimo desalinho, talvez não sentisse o peso da arrumação.


Não transpiraria tanto, em compensação, diminuiria o impacto da mudança.
Gosto da ideia de estruturar, metodizar, planejar, estabelecer metas, afixar tachinhas em um quadro de etapas, programar meus compromissos em uma agenda virtual, construir um eneagrama de prioridades, espalhar post-its pelas paredes, teto e testa.
Posturado e regrado, nutro a sensação de que tenho poder sobre o incontrolável: a torrente da vida.


Se pudesse, dependuraria letreiros nas pontas das estrelas para não esquecer dos horários, dos encontros, das reuniões, dos eventos culturais, do tempo reservado para a escrita, para o happy hour com os colegas da empresa, para ser feliz.


Entre os dias 26 e 30 de dezembro é o período sabático que tiro para desempoeirar minha biblioteca, para doar roupas e sapatos velhos, para reacender as memórias, para ressignificar as dores, para enxergar melhor o que assisti com olhos irascíveis, para domar os impulsos, os excessos, para me perdoar, para me censurar, para amadurecer.
É um encontro entre o eu do velho o ano e o eu do ano surgente.


Para este instante solene, costumo deixar o intelectual fora do octógono. Entro como alguém que tenha bebido a noite inteira para ter a coragem de vomitar verdades.





Argumento, digo, grito, choro, gemo, soluço, expilo gosma pelo nariz, regresso à condição de recém-nascido.


E – com raras exceções – nasço novamente para os 365 dias porvindouros.


Tudo em seu devido lugar: estrutura, calendário e sensatez.


Alinhado para que o novo ano traga suas inevitabilidades, surpresas e reviravoltas.


Bagunce meu planejamento, lance pelos ares minha suficiência e onipotência. Mostre-me que perante a vida nunca deixei de ser uma formiga, enfileirada atrás de outras formigas, carregando sobre os ombros uma folha de oliveira, dedicada ao labor de sol a sol, na mesma linha sinuosa de toda a humanidade. Uma formiga pisoteável por quaisquer pés desatentos.


Não me entenda errado. Não quero desprestigiar os benefícios da organização. Longe de mim levar à falência os coachs, os mentores, os consultores empresariais e os gurus do sucesso! É que...


Não te dá vontade de largar as normas, as leis e os juízes ao chão e sair correndo, feito criança, para tomar banho de chuva?




Não dá um impulso de arriar as calças, desblusar-se, e brincar nu de amarelinha?


Não dá sede na boca da alma ao mentalizar aquele boteco da juventude onde ríamos com os amigos sem ter em nosso encalço uma dezena de boletos assassinos saídos dos filmes dos irmãos Coen?


A conta bancária era um deserto. Sobrevivíamos como camelos. As moedas que apareciam eram agregadas em um rateio para comprar uma coxinha e um suco. Plena comunhão de salivas a cada dentada do próximo. Nojento, mas satisfatório.


O Papai-Noel nos trazia brinquedos; agora descobrimos que o cachê dele é mais caro que o presente.


Claro, o cotidiano exigia suas ordens: hora da escola, hora de almoçar, hora de assistir televisão, hora de dormir – prenúncio do que viria com o tempo, a idade e as responsabilidades.


Para manter ordem no cosmo, e nada sair do lugar, temos que possuir mil vigas, mil telhados, mil calçamentos, mil negociatas, mil transações com banqueiros, em uma dança sistemática, pragmática e fria. Um passo fora do ritmo, e o balé do anfêmero desanda, o barraco vai abaixo e o morro desagua em avalanche.


Nem sempre terminamos a leitura ou escrita de um texto com o mesmo pensamento. É uma das mais notáveis naturezas das palavras: acordam-nos por dentro.




Nos primeiros parágrafos, afirmei que gostava de organizar meu ano velho em preparação ao ano novo. Mentira!


Gosto mesmo é de me lançar da montanha (e sem asas), contemplar a aurora boreal pelado no Himalaia, escutar música alta, declamar poemas erógenos na frente de paróquias, garatujar as árvores do mundo com palavrões.


Peço desculpas pelo arroubo de tais confissões. Não conte a ninguém que afirmei esses desvarios. Se alguém souber, se vazar, se viralizar, se aparecer no Fantástico, negarei até a morte. E processo quem espalhou!


Jamais saiba o padre, o pastor, as carolas, os vizinhos, os fiscais do politicamente correto, o Fisco, os amigos e os familiares.


Oficialmente, repito como um bom cidadão, cumpridor dos meus deveres: vida boa mesmo é a vida organizada, cama arrumada, madeixas penteadas, café com chantilly e morango.


Deixe-me cuidar, o ano de 2023 está nos seus derradeiros estertores; o ano de 2024 está a caminho, preciso ajeitar tudo para recebê-lo.


Mala com espaço, gavetas com sobras, terno e gravatas nos cabides, sala limpa, bule com chá de camomila, o livro Dez segredos para uma vida equilibrada devidamente lido, um sorriso largo no rosto, e a velha convicção de que terei domínio sobre os próximos 365..., digo, 366 dias, pois 2024 é ano bissexto.







Feliz 2024 para todos os meus queridos leitores!





 


Franciorlis ViannZa, periodicamente, vai abordar temas pertinentes do cenário literário e cultural de nossa região.

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