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22 de nov. de 2025

A Teia Invisível que conecta o Bem-Estar de Humanos, Animais e o Planeta

   A abordagem da Saúde Única se torna ainda mais crucial diante de crises globais


Imagem: internet / Divulgação.
Imagem: internet / Divulgação.

Por Walace Ferreira — Belém(Pará),Amazônia.

22/11/2025 - 07h00


Quando levamos nosso animal de estimação ao veterinário, raramente paramos para pensar que aquele cuidado individual faz parte de uma engrenagem muito maior. Uma teia complexa e muitas vezes invisível que conecta a saúde de um cão em um apartamento, o gado em uma fazenda e a nossa própria saúde à mesa do jantar. Esse conceito, poderoso e cada vez mais urgente, tem um nome: Saúde Única.


Para a médica-veterinária Brenda Menezes, especialista em dermatologia de animais de companhia, a Saúde Única não é apenas uma teoria, mas a base de sua profissão. "É uma abordagem integrada que reconhece a interconexão entre as saúdes humana, animal e ambiental", explica. "A saúde dos animais, sejam eles de companhia, de produção ou silvestre, impacta diretamente a saúde das pessoas e a sustentabilidade dos ecossistemas".


Essa conexão se torna visível em seu consultório diariamente. "É muito comum identificar doenças de pele que são zoonoses, ou seja, enfermidades capazes de serem transmitidas entre animais e humanos. Entre as mais frequentes estão escabiose, dermatofitose e leishmaniose", relata a Dra. Brenda. Cada diagnóstico acende um alerta que transcende o paciente de quatro patas, exigindo orientação cuidadosa ao tutor e, em muitos casos, a notificação a órgãos de vigilância para proteger a comunidade.


A leishmaniose, em particular, ilustra a gravidade desse elo. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil concentra cerca de 90% dos casos de leishmaniose visceral da América Latina, uma doença que pode ser fatal se não tratada. A enfermidade, transmitida pela picada do mosquito-palha, tem no cão o principal reservatório doméstico do parasita. O controle da doença em cães, portanto, não é apenas um ato de cuidado animal, mas uma estratégia fundamental de saúde pública para proteger vidas humanas.


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O Guardião da Saúde que Vai Além da Clínica

A percepção de que o veterinário cuida apenas de pets é uma visão limitada de uma profissão com impacto direto na saúde coletiva. Você sabia que todo alimento de origem animal que chega à sua mesa passou pela inspeção de um médico veterinário? "É esse acompanhamento técnico que impede que doenças como brucelose, tuberculose e salmonelose cheguem à população", destaca Brenda.

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Essa atuação nos bastidores é um dos pilares da Saúde Única. Médicos veterinários são peças-chave na segurança dos alimentos, na vigilância epidemiológica e no controle de zoonoses. A presença desses profissionais em equipes de saúde pública, como os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF-AB), fortalece a prevenção em nível local, com orientações sobre posse responsável e riscos sanitários.

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Imagem: internet / Divulgação.
Imagem: internet / Divulgação.


Desafios Globais, Respostas Integradas

A abordagem da Saúde Única se torna ainda mais crucial diante de crises globais. Uma delas é a resistência antimicrobiana, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das dez maiores ameaças à saúde global. "O uso inadequado de antibióticos na produção animal pode favorecer o surgimento de bactérias resistentes, que podem chegar ao ser humano", alerta a veterinária. Para combater o problema, a medicina veterinária adota protocolos de uso racional de medicamentos e fiscaliza boas práticas na produção.


Outro desafio vem da degradação ambiental. O desmatamento e a expansão urbana forçam o contato cada vez maior entre humanos e animais silvestres, criando um cenário propício para o surgimento de novas doenças. "A destruição de habitats força animais silvestres a se aproximarem das áreas urbanas, o que facilita a circulação de vetores e favorece o aparecimento de patógenos emergentes", explica Dra. Brenda. Doenças como febre amarela e hantavirose são exemplos dos riscos dessa proximidade.


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O Futuro é Colaborativo

Apesar de sua importância, a implementação plena da Saúde Única no Brasil ainda enfrenta barreiras. "O maior obstáculo é a falta de integração efetiva entre as diferentes áreas. Ainda existe pouca comunicação entre setores da saúde humana, animal e ambiental", lamenta a especialista. Para ela, a solução passa por dar mais visibilidade ao trabalho do veterinário na saúde pública e investir em equipes e políticas verdadeiramente multiprofissionais.


A mensagem final de Brenda Menezes é um chamado à responsabilidade coletiva. "Não existe Saúde Única sem consciência coletiva. Cada escolha, desde o cuidado diário com nossos animais até a forma como tratamos o meio ambiente, cria impacto direto na saúde da nossa comunidade", afirma.

É um convite para enxergar o mundo como um sistema vivo e interligado. "Quando cuidamos de um animal, quando evitamos o desperdício, quando respeitamos a natureza, estamos cuidando também de nós mesmos. Se cada um fizer a sua parte, conseguimos construir um futuro mais seguro, mais justo e mais saudável para todos: humanos, animais e o planeta que dividimos".



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