
Mais de cinco mil pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, intersexo e assexuais) morreram vítimas de preconceito, em vinte anos no Brasil, de acordo com dados do Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ (2021). A realidade de discriminação, preconceito e, muitas vezes, violência para pessoas LGBTQIA+ no país é representada por Dante Grasso, um garoto que sofreu traumas de infância e desde então tenta lidar com os pensamentos do passado, com pais ausentes e desejos religiosamente proibidos. O protagonista da ficção “O Paraíso de Dante”, do universitário Fernando Mos, 19, carrega uma história que muitos vivenciam na pele, inclusive o próprio autor da obra.
Esse é o primeiro livro publicado pelo jovem que nasceu em Castanhal (PA) e que hoje é
universitário de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA). Escrito e editado de forma independente, contando apenas com a ajuda de amigos, a obra se passa numa cidade fictícia no interior do Pará chamada Jurupari e é resultado de dois anos de trabalho.
Sobre o livro - “Algumas coisas que são passadas no universo do livro, apesar de ter personagens e situações fictícias, falam muito sobre a minha vida. Foi desse ponto de partida, e com a leitura de livros como ‘Me chame pelo seu nome’, assistindo filmes como ‘Meninos não choram’ e percebendo cada vez mais os problemas sociais que cercavam pessoas LGBTQIA+, que despertou em mim uma necessidade de passar uma mensagem sobre aceitação, dor, amizade, amor, descoberta, enfim...sobre a vida”, conta o autor.

Quando o protagonista, Dante Grasso, ingressa no ensino médio, tem seus sentidos despertados. Segredos familiares também contribuem para que o mistério que ronda o passado do personagem seja muito real. Além de Dante, outros personagens revelam uma história paralela que prende a atenção do leitor.
Experiência própria - “Meu maior desafio na escrita desse livro foi relembrar ou imaginar algumas situações que precisavam estar nessa história, pois às vezes eram muito chocantes e pesadas”, conta Fernando Mos. O autor, que já gostava de escrever e ler desde criança, passando por algumas experimentações artísticas na infância e adolescência, passou a de fato se apaixonar pela escrita no ensino médio, incentivado pelo curso de redação que fazia na época. Há dois anos, começou a criar o mundo fictício de Jurupari, escrevendo primeiramente em um blog pessoal.
Com a pandemia da Covid-19, a dedicação à obra cresceu. Foi quando Fernando decidiu criar um perfil no Instagram onde publicava fragmentos de contos distópicos. Mas com o tempo percebeu que havia ali o potencial de um livro, e, desde então, dedicou-se a esse objetivo. “Apesar de ter situações que remetiam a um passado de traumas, imaginar os personagens, suas histórias, seus amores e suas conclusões no livro aliviou a tensão do mundo real enquanto eu escrevia, durante o contexto da pandemia. Em alguns meses, a primeira versão ficou pronta”, recorda.

Autoconhecimento - Ao finalizar “O Paraíso de Dante”, o escritor paraense também se deu conta de que escrever o livro também foi uma forma de se reconhecer como homossexual diante da sociedade, inclusive de membros da família para os quais, até então, não havia se declarado abertamente: “Quando terminei o livro e percebi suas temáticas, situações e mensagens, deparei-me com algo que inconscientemente eu havia feito: uma forma de ‘sair do armário’ para algumas pessoas ao meu redor”.
Inspiração - O nome da obra remete à Divina Comédia, de Dante Alighieri, e foi proposital ao passo que o livro fala muito sobre a questão da sexualidade envolvida com a religiosidade cristã. Na ficção, há pequenos poemas épicos que fazem referência também à Divina Comédia, mas são pontuais e remetem aos pesadelos do protagonista. A narração é, em geral, em primeira pessoa, mas dentro dessa história os personagens também costumam contar várias outras tramas, que envolvem até mesmo deuses indígenas e contos europeus.
Serviço : Livro “O Paraíso de Dante” De Fernando Mos.
DISPONÍVEL PARA COMPRA NA VERSÃO DIGITAL. Contato do autor do livro ( 91)
98706-4888.
Texto: Alice Martins Morais (91) 98171-5348 (Consultora de Comunicação - UNFPA)